23 janeiro 2015




Perdoar é um mecanismo psicológico muito mais poderoso do que se imagina. Quando sentimos alguma injustiça – seja por sofrermos algo, sermos privados do que merecíamos etc – temos a tendência de buscar reparação. Como essa nem sempre é possível, cria-se uma sensação de ressentimento, raiva, amargura, desconforto associados à injustiça – o tal rancor automático. Esse estado, contudo, é bastante estressante, e se torna prejudicial ao organismo como um todo. Perdoar é um processo – e não um momento – de redução gradual dessas emoções negativas. Existem outras formas de reduzir a sensação de injustiça – vingança, condenação judicial do ofensor, crença na reparação divina, justificação da conduta do outro – mas elas não são eficazes como o perdão real. Quando de fato se perdoa, o estresse associado ao ressentimento diminui a ponto de suas consequências serem fisicamente notáveis – diversos estudos mostram redução da pressão arterial, da frequência cardíaca, da tensão muscular. Além do quê, quem perdoa experimenta maior relaxamento, mais bem estar e sensação de controle.
A decisão racional de perdoar é diferente do perdão emocional, contudo. Ao decidir perdoar, a pessoa reduz a hostilidade mas não necessariamente se livra das emoções negativas; o perdão emocional, aquele em que se abandona de fato o rancor, este sim está associado à redução do estresse e restauração das emoções positivas.
Claro que nem sempre é fácil. Mas mais do que isso, nem sempre desejamos perdoar – ficamos com aquela sensação de que, se o fizermos, estaremos saindo no prejuízo. Ok, você pode decidir guardar sua mágoa. Mas o faça consciente de que, sem a menor sombra de dúvida, quem sofre com isso é você.
________________________
Daniel Martins de Barros 
(publicado no Estadão em 20.01.15)

03 dezembro 2012

A melodia do nosso amor...

http://www.youtube.com/watch?v=30O92akDeJg

Oh nothing's gonna change my love for you
I wanna spend my life with you
So we make love on the grass under the moon
No one can tell, damned if I do
Forever journeys on golden avenues
I drift in your eyes since I love you
I got that beat in my veins for only rule
Love is to share, mine is for you

Sébastien Tellier - La Rotournelle



28 junho 2012

ela é tão insegura do amor e fidelidade do marido, que acha que o detém atacando quem foi tão vítima quanto ela mesma de uma infeliz situação. o que ela não percebe é que, a cada ataque, seus lindos olhos perdem o brilho e seu sorriso se desmorona do alto de seu corpo esguio, tornando-a tão pobre, sem alma e insignificante quanto um cocô.

26 abril 2012

Observar é uma maneira de estar e não estar. Ou estar, de uma maneira diferente.

Frase extraída deste lindo filme.



10 agosto 2011

No tempo de semear, aprenda; no tempo de colher, ensine; no entretempo, goze.
Cazuza

18 julho 2011

O amor bom é facinho.

Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.


IVAN MARTINS

É editor-executivo de ÉPOCA

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI244764-15230,00-O+AMOR+BOM+E+FACINHO.html

15 maio 2011

Goethe

"Be bold and mighty forces will come to your aid."

23 março 2011

Li por aí:

Para quem goza, nenhuma explicação é necessária.
Para quem não goza, nenhuma explicação é possível.

12 janeiro 2011

"é assim que me sinto: amanhecendo"



“a gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. as coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. mas a gente nunca tira tudo. sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. a gente sabe. que tá curta, pequeno, apertado. é que a gente queria tanto. que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. isso pode servir melhor para outra pessoa. hora de deixar ir. alguém precisa mais do que você. se livrar. deixar pra trás. algumas coisas não servem mais. você sabe. porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. perda de espaço, tempo, paciência e sentimento. tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. deixa. deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.”


(título e texto - sensacionais e inspiradores - caio fernando abreu) ** encontrados aqui.

17 novembro 2010


"(...) quando ela me vê, onde estiver, no banheiro, na cozinha, na aldeia, na parede do cemitério, no campo, onde eu estiver, ela me seduz. Ela me lança um olhar sensual, fecha os olhos ou seus lábios brilham e a coisa acontece. As narinas estremecem como asas de borboleta. Suspira feito um animal. Envolve a sedução em roupões coloridos, usa os elogios como envólucros da sedução; ela me faz acreditar que a) eu sou um homem fantástico, b) se por alguma razão eu não for, ela é louca por mim do mesmo jeito.”

Uma Mulher, Péter Esterházy

04 novembro 2010

Eu, taurina

It's so easy to love a Taurus. As a Taurus you are a sensual creature. You notice all the little things around you that make the world a beautiful place to live - things others overlook. You will rave about the bouquet of a wine, the notes in a delicate fragrance, and the subtle ingredients in a French sauce. A Taurus knows life is to be lived to the fullest. Spending time with a Taurus is always fun and enlightening. You have so much to give, dear Taurus, and apparently someone near you understands you and is as ready as you to make a formal commitment to be with you forever.

By Susan Miller

Eu não sei se é fácil me amar, mas uma parte (boa) de mim é isso aí.

19 outubro 2010

*

Deserve... and then, Desire.

David Lynch

18 outubro 2010


Cheguei do casamento mais feliz da vida, a casa quieta, escura. A rua ainda gritava os ruídos da noite, mas dentro de casa era silêncio. Só.
Me despi do vestido que especialmente costurei para a ocasião.Tirei os grampos do cabelo, a maquiagem, me perfumei.
Ouvi novamente o silêncio, me lembrei de você. Pensei que talvez fosse bom ainda te ter por aqui, mas depois pensei que estava bom assim. Aí pensei que me acostumei com sua ausência. Ela já não dói tanto. Me acostumei com o barulho aqui dentro de mim.
O tempo é fabuloso. 
Sem mais.


27 setembro 2010

24 setembro 2010


I love you, but one or both of us is/are fictional.

Kim Addonizio


22 setembro 2010

Setembro, 2007


eu descobri que te amo. claro que eu já tinha te dito isso, mas agora eu descobri que amo. de verdade.

as últimas semanas foram difíceis para mim. quis me distanciar por achar que eu conseguiria me livrar da angústia que me sufocava e percebi que uma nova angústia pairou aqui dentro. a angústia de não sentir seu cheiro, de não tocar tua pele, de fechar os olhos todas as noites sabendo que não estava ali para me olhar. a angústia de não saber por onde e com quem andava, se sonhava comigo, se sentia falta do meu beijo, do meu toque, da minha voz.

nestes dias sombrios meus sonhos foram cheios de você, do seu sorriso, da sua cara de medo que às vezes faz, da sua feição de afeto por me ter ao seu lado, do seu sorriso melódico cantando beatles. dos seus braços me envolvendo para dançar aquela música na sua cabeça, da sua cara de tesão tentando me acordar. queria sentir seu rosto colado ao meu, sua respiração quase muda morrendo de prazer na cama. nossa, que saudade de nós na cama... não pensei que fosse dificil não encarnar a namorada neurótica de todas as manhãs, não ensaboar meu pinto na hora do banho, não passar meu creme no seu rosto antes do trabalho. queria saber qual era a cor da sua gravata, se já tinha cortado o cabelo de novo, o quão estaria feliz com a vitória do são paulo e com quem estaria bebendo para comemorar. queria saber se eu estava na sua cabeça quando conversava com alguém na balada, se havia escolhido sair com aquela camiseta porque foi eu quem te deu. se chegava em casa bêbado, dirigindo, acompanhado ou não. se os dias do fim de semana eram ainda cheios de trabalho e quem procuraria para contar como foi. se estava visitando os decorados e, quando o fazia, se lembrava de nós dois. pensei no cheirinho do seu carro novo, na música que tocaria no disc man, se meus cds estavam de lado, se sentia falta do seu case na minha casa. pensei na sua camisa branca, cueca, jeans, no tenis azul, nos filmes que ficaram por aqui. no whisky que abrimos juntos, na pizza congelada que comprei para você, no presentinho que ainda não te dei.

se sua nova rotina estaria deixando para trás a nossa vidinha tão comum e especial. se seus amigos perguntavam de mim, se você dizia que tinhamos terminado. me perguntava que nova vida estaria procurando para você. se sentia vontade de beijar outro alguém, se se despiu para alguma outra mulher, se procurou alguém do passado pra curar a dor, se olhou para alguém pensando em um novo futuro para você.

se pensou em mim, com quem eu estava, que calcinha eu usava, se com alguém eu transava. se passou em frente ao meu trabalho e teve frio na barriga. quantas vezes pegou o celular para me ligar e não o fez. se contou para sua familia que estava sem mim, se releu minha carta, se procurou nossas fotos, se procurou saber de mim. pensei nisso tudo. aí pensei que te amo. pensei que quero viver com você acima de qualquer outro sentimento que possa haver em mim neste momento.

nos encontramos rapidamente duas vezes, estes encontros que a vida nos prega sem a gente entender por quê. tive frio na barriga, pensei incessantemente em você. mais dias e noites foram passando e me acostumar com o vazio passou a me incomodar. algumas lembranças fugiam, um medo de esquecer sabendo que se está esquecendo. um medo de ter de volta e não saber o que fazer. um medo da distância que se estabeleceu entre nós.

dos mundos um tanto já distintos, uma mensagem de madrugada. uma, duas, três ligações logo em seguida. sua voz dizendo que queria me ver. te esperar cinco infinitos minutos na "nossa casa'', ouvir seu carro chegando, a campainha tocando. fui até você. já não era rotina, mas era bom. você estava fantasiado, parecia um menino. seu sorriso lindo, doce. seu jeito de me olhar como mulher. te coloquei em minha casa novamente. sentamos, nos olhamos, bebemos, fumamos. cantamos, dançamos, nos sentimos. rimos muito, estavamos felizes e despreocupados. você me despiu, eu te despi loucamente. continuamos dançando nus sob a penumbra da noite, das luzes coloridas da casa, das músicas de nós dois. senti seu coração bater no meu peito, sua respiração no meu colo, seu braços em minha cintura livre, seu corpo novamente junto ao meu. nus. você não queria dormir, queria emendar o ontém e o amanhã. eu quis fazer deste o nosso infinito momento. falamos em recomeçar.

fizemos amor como se fosse a primeira ou a última vez. acordamos felizes, unidos, satisfeitos e insaciáveis. nos despedimos como dois adolescentes, pensamos um no outro ao longo do dia. veio o domingo cheio de trabalho, a falta que você me fez. seu telefonema de madrugada, noite de muito sono, segunda-feira, sentimento de amor.

o que sinto é amor, meu amor. o que sinto é que estamos aqui de novo e que não sabemos para onde vamos. sei que te quero e sei como. sei que me quer, mas não sabe como. cada contato mostra infinitas possibilidades. não sei o dia de amanhã, nem o depois. sei que te amo, sei que agora não me engano. tudo novo. tudo novo de novo.

20 setembro 2010



(...)

A vida segue, o belo é que nós não somos descartáveis. Há alguém muito perto do outro, que olha, que observa. Faz sorrir. E há alguém que está, mesmo sem ser, como se não precisasse, imperceptível.

Tenho um jeito meio desajeitado de dizer as coisas, meio prolixo, meio cheio de curvas, um jeito tão sem precisão que me faz ter vergonha de fazê-lo. Não: decidi não sentir vergonha de nada que eu seja capaz de sentir.

E essa madrugada? Eu, sinceramente, acho que o tempo vai fazer eu me esquecer de você e você se esquecer de mim. Por isso, escrevi isso. Para deixar registrado.

Eu me sinto melhor com tua presença. Aí. Aqui. Acima das nossas cabeças.

Fique feliz, fique bem feliz, fique claro. Queira ser feliz. Te envio as melhores vibrações.

Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas, que seja bom o que vier: para mim, para você.

Te escrevo isso por absoluta necessidade de sinceridade. Hoje tem noite e amanhã tem sol.

- Me queira bem.

30 agosto 2010

Euforismo, Histeria. Realidade e Ficção.

(...) Além disso, a desgastante alegria de Jude tinha um toque esquisito de histeria. Se a gente inclinasse apenas meio ouvido para seu discurso alvoroçado, ficava dificil dizer se ela estava rindo ou chorando. E isso apesar de ela rir muito, inclusive durante quase toda a extensão de suas frases, tornando a voz mais aguda à medida que se impelia para uma hilaridade em crescente aceleração, quando nada do que dizia era engraçado. Era um riso compulsivo, deflectivo, mais nascido dos nervos do que do humor, um recurso de mascaramento e, portanto, meio desonesto.


Lionel Shriver em "O mundo pós-aniversário"

24 agosto 2010

por enquanto meu esforço está em mim.

19 julho 2010

Eu, Eu Mesma e Manu


Eu não tenho escrito por alguns motivos. Falta de tempo, preguiça, falta de abstração e - para finalizar - pura falta de inspiração. Ela foi passear há alguns meses atrás e agora começou a voltar. Aos poucos.

Voltei a fotografar, isso é bem bom. Voltei a baixar músicas novas, fazer playlists, me vestir de forma um pouco mais divertida. Dei um tapa aqui e ali em casa, em detalhes que quase só eu sei. Tenho conseguido repousar ao invés de me atropelar em dias e noites por aí. Tenho tido um pouco de insônia, às vezes sonhado com trabalho, mas até que tenho dormido bem. Aliás, o trabalho tem sido bem importante. Produzir dez comerciais ao mesmo tempo exigiu uma versatilidade que fez eu me sentir fodona quando precisei olhar no espelho e procurar um quê para me orgulhar. Tem a academia também, que mesmo com os dez filmes e sem a inspiração, permaneceu super presente na rotina. Tem a dispensa e a geladeira só com produtos orgânicos. Tem os cineminhas e os jantares felizes toda semana. Tem a leveza do não fazer nada por obrigação.

Tem um Eu quase egoísta que - de tanto doar ao outro, resolveu doar a si. Tem eu desenterrando Eu Mesma: meu afeto, minha coragem, os valores que guardei para mim. Ainda não sei como serão os próximos meses dentro e fora daqui, mas todo medo se dilui quando o que me importa é o agora: uma Manu em profunda transformação.

28 abril 2010

“Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiências, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços. Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os outros ignoram.”

O Espelho, Guimarães Rosa



06 abril 2010

Que bonitinhos...



Strangers, waiting, up and down the boulevard
Their shadows searching in the night
Streetlight people, living just to find emotion
Hiding somewhere in the night

29 março 2010




Don't make decisions when you're angry. Don't make promises when you're happy.

*

#sabedoria

18 fevereiro 2010

quinta-feira de cinzas.

11 fevereiro 2010

catarse

ca.tar.se sf (gr kátharsis)
1 Purgação. 2 Purificação. 3 Psicol e Med Método de purificação mental que consiste em revocar à consciência os estados afetivos recalcados, para aliviar o doente dos desarranjos físicos e mentais oriundos do recalcamento.




Eu tinha para mim que catarse era o espelho das dores, alegrias ou quaisquer emoções; a ação de expressar emoção a partir da emoção do outro. Doação? Comoção? Sim, mais ou menos por aí. Eis que consultei o dicionário e percebi que a avalanche do que sinto agora - através do outro - pôde, então, ser perfeitamente resumida em apenas três sílabas; percebi que o seu mundo cinza escuro também reside dentro de mim. 

Acredite, sinto a tamanha dor do seu desconforto com o mundo, anjo meu. E dedico esse texto - o meu preferido do Pessoa - a você, somente a você: 

"Não sei sentir, não sei ser humano, não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens, meus irmãos na Terra. Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido. Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri. Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos e fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. Amei e odiei como toda a gente. Mas para toda gente isso foi normal e institivo. Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim. Não sei se sinto demais ou de menos. Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos."
"Passagem das Horas", Álvaro de Campos

26 janeiro 2010

O "estar sozinho"


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.


A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz, o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.


Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.

A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado.

Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

Flávio Gikovate

20 janeiro 2010

Nosso maior inimigo é a nossa falta de humor.

06 janeiro 2010

2010

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.


Fernando Pessoa

16 dezembro 2009

Fim de ano é época de balanço


Passei algumas semanas bem chatinha com a vida e fiz uma retrospectiva ultra-particular para conseguir enxergar as coisas menos dramáticas e, assim, mais claras. Foi muito bom para eu sair da atmosfera down, super recomendo a todos nós mortais.
É claro que a versão original (e pra lá de profunda) não será postada aqui, mas gostaria de registrar alguns acontecimentos singelos e marcantes de 2009. Este em que eu assoprei a velinha dos 28 anos. Este que foi estranho, mas com um upgrade de auto-conhecimento, aprendizado e muito, muito amor.


- As infinitas horas a dois em Parati
- Olhar a Torre Eifel pela primeira vez
- A lamentável cena de preconceito contra nós num bistrô em Paris (mas demos muita risada e terminamos a noite em um lugar infinitamente melhor)
- A gargalhada-sem-controle digna de vergonha alheia no elevador do hotel em Amsterdam
- A enxurrada de lágrimas de risada (e o videozinho que a comprova) no cofee shop verde em Amsterdam
- O "eu te amo mais"
- O show do Radiohead
- A noite de páscoa com a familia do Gui
- A Mi ficando "Anos 70"
- Eu e Enrico com cinco anos de idade na Neu
- Voltar a trabalhar com o Tharso
- Conviver diariamente com Sarah e Flavio
- O jantar de amigos regado a 12 garrafas de vinho no Pasquale
- Minha pequena-grande Beleléu
- Ganhar o Felipe de afilhado
- Conseguir o apê que tanto queríamos
- Morar com o Gui
- Nosso novo sofá
- Resgatar meus relatórios de pequena da escola
- Ver o Romeuzinho abrindo um novo bar
- "Take Five" no rádio, no lugar certo e na hora certa
- Fotografar com minha canon-xodó sem parar
- Dizer adeus aos últimos anos de sedentarismo
- Sair - e me estragar - tão menos
- "Elephant Gun" do Beirut
- Deixar a preguiça de lado e me dispor a resolver algumas pendências do passado
- Falar a verdade-doída tantas vezes
- Conseguir dizer "não" tantas outras
- Pintar minhas unhas de Marina
- Contar os dias para o Natal e Reveillon na bela e mágica Bahia (de todos os santos)

28 novembro 2009


"A imagem poética me salva do planeta.
E o planeta?
Ele retorna em mim entre delicadezas e nuances. Tênue e colorido.
Eu o construo com as minhas memórias.
Ninguém vive daquilo que é.
Viver é fictício."

10 novembro 2009

é muito maluco analisar o comportamento das pessoas quando dinheiro está envolvido. se você não ainda não teve a experiência de uma "crise" de grana com um amigo seu, provavelmente não o conhece muito bem.
na real eu já fui assim, de tentar me esquivar quando o papo era colocar a mão no bolso por algum imprevisto. isso gerou algumas discussões com amigos e sempre foi muito doloroso admitir que sim, esse tipo de reação as vezes saía de mim. e como o primeiro passo é sempre admitir o erro, comecei, então, a me observar.
o primeiro ponto é que eu realmente não tinha grana. saí de casa cedo, desempregada, quando voltei a trabalhar ganhava mal pra cacete e o maior problema é que eu estava vivendo uma vida que não cabia no meu bolso, mas sim no bolso de alguns amigos meus. qualquer coisa que saía um pouco dos planos eu já não tinha como arcar e ao invés de procurar ser humilde, eu me esquivava. por orgulho. por imaturidade. por vergonha, talvez.
comecei aos poucos a viver a vida que eu male male conseguia bancar, mas trazer os pés pro chão foi o primeiro passo para eu começar a me erguer pessoal, financeira e profissionalmente. com um tempo meus amigos espontaneamente reconheceram essa mudança que (secretamente) impus a mim e passei a dormir minhas noites em paz.
hoje não suporto ver mesquinharia. ainda mais porque os 21 anos ficaram bem pra trás e pouquissimas pessoas que conheço vivem num perrengue que justifique esse tipo de postura.
com um tempo a gente aprende que dinheiro não é tudo meeesmo. ele não compra suas verdadeiras amizades, não compra um estilo de vida decente e muito menos o respeito das pessoas por você. mais cedo ou mais tarde todo mundo aprende isso, pena que as vezes é preciso quebrar a cara para isso acontecer.

05 novembro 2009

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

Trecho do livro "Carta a D.", de André Gorz

16 outubro 2009

e a teoria do tharso só se confirma: TODO HOMEM É BOBO E TODA MULHER É CHATA.

15 outubro 2009

clarah averbuck casou.
destaque para os votos, numa singela e deliciosa carta de amor.

ah, o amor!

13 outubro 2009


Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros

Eu deixo e recebo um tanto
Passo aos olhos nus

Novos Baianos

12 outubro 2009

E a saudade do Rio só aumenta

O que eu fiz nesse feriado? Passei mais de 12 horas no aeroporto... e não embarquei.
Nossa viagem ao Rio deliciosamente programada há mais de um mês com Sarah e Leo, casal carioca mais que querido, micou por completo.
Sarah embarcou na sexta de manhã (o que não sei se foi sorte ou azar), Manu, Gui e Léo deixaram pra ir a noite. Entre atrasos e reagendamentos do vôo, a mala do Gui embarcou para algum destino desconhecido e nós não embarcamos para lugar nenhum. Nova tentativa de embarque no dia seguinte e o caos foi surpreendentemente maior do que no dia anterior. Além da mala até então não encontrada, nosso vôo sofreu uma série de adiamentos até que perdemos o jogo que iríamos no Maracanã e nossa paciência se esgotou.
Justificativa da Gol? "Estamos sem tripulação, o piloto sumiu". E tivemos que engolir isso a seco. E preencher diversos formulários de reclamação. E gastar mais e mais dinheiro com taxi. E voltar para casa pela segunda vez, sem mala, tentando colar algum sorriso no rosto. E ficar em Sampa nestes dias cinzas. E ficar procurando o que fazer. E fazer as mesmas coisas de sempre. Só pra variar.

Gol, muito obrigada por acabar com nosso feriado.